terça-feira, 23 de junho de 2015

Mudança na geração de energia urbana de Macapá


Registro fotográfico de 1949, da Usina de Força e Luz que atendia a pequena cidade de Macapá.


Em meados de 1944, quando a Usina de Luz e Força (UFL) de Macapá passou a gerar energia elétrica para a capital amapaense, o então Governador do Amapá Capitão Janary Nunes, efetuou um planejamento para que os motores “Caterpillar” – instalados na UFL da cidade – atendessem por pelo menos os primeiros quatro (04) anos de autonomia territorial, com sua produção energética de 18hs diárias. 

Entretanto, com as constantes chegadas de famílias à capital amapaense que, em consequência, surgiria a abertura de novas vias (ruas e avenidas), obrigou o poder público local a ampliar a rede de iluminação urbana e domiciliar em virtude dessa expansão populacional, de modo que, antes do final do ano de 1946, os referido motores da UFL tiveram de superar a sua capacidade nominal de produção. 

Com isso, começaram a ser constatados os desgastes de peças mecânicas, difíceis de serem adquiridas de imediato no país, obrigando assim (por questão de ordem técnica), que a Superintendência de Serviços Industriais do Governo do Amapá determinasse pela redução no fornecimento de energia elétrica para a cidade de Macapá, bem antes de alcançarem o prazo estipulado, que seria por volta de 1948. 

Vendo que a produção diária seria de apenas 12 horas, o governo amapaense (através da Divisão de Obras) buscou tomar imediatas providências para se fazer comprometido com a situação constantemente formada, tanto pelo crescimento populacional, como pela elevada demanda de consumo elétrico, havendo mantido em julho de 1948, diversos contatos com empresas nacionais e internacionais, que quisessem oferecer a comercialização de motores e geradores elétricos de grande capacidade. 

Formalizou a aquisição de dois novos motores para a UFL de Macapá, que desembarcariam na cidade no final daquele ano (de 1948). 

Nota em jornal informando das mudanças na UFL
Porém, a Divisão de Obras do Governo do Amapá (que tinha como chefe o Engenheiro Hermógenes de Lima Filho) recebera a orientação da empresa vendedora dos motores de que os novos equipamentos seguiam um padrão de geração excepcional para as usinas elétricas da época, sendo preciso adaptar corretamente as instalações que seriam atendidas por sua geração. 

Em face da orientação tomada, a Divisão de Obras do Governo do Amapá avisou publicamente a população macapaense das alterações que ocorreria na geração e distribuição elétrica urbana, solicitando assim que houvesse a substituição domiciliar de suas instalações elétricas, evitando possíveis danos materiais em seus equipamentos. 

Até o final da década de 1940, a Divisão de Obras do Governo do Amapá já havia concretizado a substituição elétrica de mais de 90% das instalações domiciliares, e feito um considerável atendimento de quase 440 ligações novas. 

No ano de 1949, a UFL de Macapá – que agora estava com seus novos motores – havia mantido um consumo elétrico de 244,67kw, distribuídos nos 360 postes de iluminação espalhados na cidade.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A 1ª inspeção técnica à cachoeira do Paredão


O governador do Amapá Capitão Janary Nunes retornando de inspeção feita à cachoeira do Rio Araguary, em 1947


Foi por volta das 07:00hs da manhã daquele dia 12 de junho de 1947 quando o então governador do Amapá Capitão Janary Gentil Nunes e sua comitiva governamental pegaram um barco-motor e desceram o rio Araguary com o objetivo de analisar as possibilidades de aproveitamento para o fornecimento de energia hidroelétrica do referido rio. 
Estiveram acompanhando o Chefe do Executivo amapaense: Drº Hermógenes de Lima Filho (diretor da Divisão de Obras do Amapá); Mr. John Lucien Hummel (engenheiro-chefe do Serviço Especial de Saúde Pública do Governo amapaense); Tenente Dulcício Alves Barbosa (reformado da Aeronáutica); Sr.º Daniel Martins (fotógrafo); Geraldo Silva (da empresa de mineração Apolo). 

Após saírem de Macapá ás 12hs do dia 11 de junho, seguiram em destino à vila de Porto Grande, onde pernoitaram e seguiram viagem pela manhã, através de um barco-motor cedido pela comunidade. Ao descerem rio Araguary, bateram algumas fotos até a região da Cachoeira do Pião e Caldeirão. Às 14hs, depois de fazerem uma ligeira refeição, o então governador e sua comitiva seguiram viagem pela cachoeira. 

O Capitão Janary, o Dr.º Hermógenes e Mr. Hummel ficaram observando a cachoeira do Paredão durante quase uma hora, por jusante e montante nos seus interessantes aspectos. Possuindo cerca de 600m de extensão por 12m e 15m de altura, prevendo-se uma elevada quantidade de potencial hidroelétrico, calculado pelo menos em 200.000 HP na sua totalidade. Vale ressaltar que a cachoeira fica numa distância em linha reta de 110km de Macapá. 

Já por volta das 19hs, o Capitão Janary Nunes e sua comitiva começaram a fazer a viagem de retorno, chegando à fazenda pertencente ao Senhor Dulcício que integrava a sua comitiva, onde ali pernoitaram e seguiram de retorno à Macapá pela manhã seguinte, chegando nesta capital por volta das 08:30hs da manhã do dia 13/06. 

Um dos marcantes momentos dessa viagem pela cachoeira do Paredão veio por patê do Mr. Hummel (engenheiro-chefe do SESP), que revelou o seu entusiasmo pelo futuro econômico da região que teve oportunidade de visitar.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O 1º furto público de materiais elétricos no Amapá


Aspectos de Macapá em meados da década de 1940.


Em 1946, o sistema de distribuição de energia elétrica da área urbana de Macapá era bastante limitado, onde o então Governo Territorial do Amapá investia periodicamente na extensão de novas redes elétricas. 

Porém, para que o poder Público pudesse atender as novas demandas, a Superintendência dos Serviços Industriais do Governo do Amapá efetuava uma lista semanal de pedidos de novas instalações residenciais que eram repassadas para a administração da Usina de Força e Luz (UFL) de Macapá, que, ordenadamente, buscavam atender aos pedidos. 

Como o serviço de fornecimento de eletricidade era uma ação inovadora em termos de infraestrutura urbana para a população macapaense, os materiais elétricos utilizados – tanto na rede distribuidora de energia elétrica, como nas instalações de entrada das residências – eram cedidos em caráter de doação pelo governo amapaense, mas havendo um registro de controle de gastos que serviam na prestação de contas da administração da Usina de Força da cidade. 

Em virtude da cidade de Macapá haver pouco mais de 1.200 moradias espalhadas, menos de 20% desse índice ainda era contemplado pelo fornecimento elétrico, enquanto que boa parte do restante já havia solicitado a instalação de luz elétrica ao governo amapaense, apenas aguardando o atendimento. 

Material elétrico desaparecido
A Usina de Força e Luz de Macapá gerava energia elétrica por 15 horas diárias, havendo algumas ocasiões ter ampliado sua geração por ordens superiores, mas mantinha sempre esse período de funcionamento. Os poucos registros diários de pane ou sobrecarga na geração da UFL eram ocasionados por razões de natureza adversa (vegetação caída sobre a rede elétrica ou fortes chuvas), já que a cidade anda mantinha um aspecto interiorano. 

O quadro administrativo da UFL era composto de seis (06) eletricistas, dois (02) encarregados, oito (08) ajudantes de eletricistas. Todos eram subordinados à Superintendência dos Serviços Industriais do Governo do Amapá, que tinha como titular o Sr. Aristeu Ubirajara Coutinho. 

Como a UFL ocupava 70% do tempo diário, seus funcionários trabalhavam sob regime de revezamento diurno e noturno, estabelecido pela própria Superintendência dos Serviços Industriais. 

Em 20 de setembro daquele ano (1946), numa ação discreta, realizada durante a geração noturna da UFL, cerca de 10kg de fios de cobre desapareceram do depósito da UFL que ficava atrás da própria Usina, sendo levado o fato de imediato ao conhecimento do superintendente Aristeu Coutinho, que registrou o roubo na Delegacia de polícia de Macapá, que prometera investigar cautelosamente o seu destino. 

Sobrecargas na UFL
Passados alguns dias após o desaparecimento de materiais elétricos, a UFL começou a sofrer constantes desligamentos que não conseguiam ser detectados pela equipe interna da UFL. Os chamados “apagões momentâneos” aconteciam quase sempre entre às 20hs e 22hs, deixando perplexos os técnicos da Usina por cinco dias consecutivos, o que obrigou a administração da UFL a tomar uma providência: colocar os eletricistas da UFL para vistoriarem minuciosamente toda a rede elétrica de Macapá durante o horário preciso dos desligamentos. 

A condenação dos envolvidos publicada em 1946
Como a equipe noturna da UFL era composta de quatro (04) funcionários, coube ao eletricista José Leitão percorrer o circuito elétrico entre os horários que atingiam a geração da UFL. Não foi tão difícil para José Leitão constatar que uma rede irregular fornecia energia elétrica para uma moradia localizada por trás da antiga Olaria Territorial, onde Leitão buscou por informações de que aquela instalação não estava registrada no cadastro de residências que eram atendidas pela UFL de Macapá. 

Após uma persistente conversa com o dono da moradia, o eletricista José Leitão soube que a instalação havia sido feita com o referido material elétrico que foi anteriormente furtado do depósito da UFL, e que os responsáveis dessa “façanha criminal” seriam funcionários lotados na UFL. 

Funcionários da UFL envolvidos
Procurando não causar abalo na estrutura administrativa do governo amapaense, o fato somente veio a público no início do mês de outubro de 1946, quando a Polícia intimou quatro funcionários da UFL de Macapá para prestarem depoimentos na delegacia, onde dois confessaram ter roubado o material e repassado para outros dois colegas da UFL. 

Os operários envolvidos no furto foram: José Francisco dos Santos, Rui Barbosa da Silveira (ex-servidor público), Ivo Dias de Oliveira e Vicente Huet Bacelar, todos do quadro administrativo do Governo Territorial do Amapá, que teriam infringido o artigo 312 do Código Penal. Curiosamente o operário José Francisco dos Santos (chamado pela alcunha de “Brocoió”) já tinha passagens policiais por desordens públicas e agressão física. Já o encarregado Rui Barbosa havia levantado uma suspeita no envolvimento do furto dos materiais quando solicitou seu desligamento funcional da UFL dias antes do ocorrido, para tratar de sua saúde, o que deixou desconfiado alguns colegas de trabalho que não entendiam a retirada de um “funcionário-padrão” do quadro efetivo de um dos setores mais bem remunerados do governo local. 

A tal denúncia também chegou ao conhecimento da Promotoria da Capital no dia 10 de outubro, que decidiu pela prisão dos envolvidos e condenação mínima de seis anos (para cada acusado) pelo furto de material público e danos ao patrimônio público. 


(Algumas informações foram tiradas do Jornal semanal “Amapá”, de 12/10/1946, edição 82)